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Carga horária do brasileiro conduz o país ao declínio

 22/07/2013

A carga horária atribuída ao trabalhador brasileiro, de 8h/dia, parece viável na visão capitalista; porém ela sacrifica a família e, com isso, a sociedade e a Nação como um todo.

Trabalhar 8h/dia é o comum em todos os estados do Brasil, conforme determinação da CLT. O trabalhador fica disponível 8h por dia para empresa, mais o tempo de deslocamento de ida e volta ao local de trabalho; com isso, o cidadão permanece ausente do seu lar, em média, 12h por dia. Para o trabalhador e empresa, seja pública ou privada, o resultado a curto prazo chega a ser favorável, porém com o passar das décadas o resultado social é totalmente desfavorável; quando os filhos dessas famílias carecerão de estrutura emocional para também produzirem. Quando uma geração é sacrificada aleatoriamente, sem razão, por falta de inteligência corporativa e processos de gestão, o resultado é catastrófico.

As perguntas são: qual o tempo que o trabalhador tem para ficar com sua família – esposa e filhos? Como orientará e educará as crianças? Qual o tempo disponível para cuidar da sua vida – esporte, saúde, lazer, educação etc.? Qual educação e estrutura emocional terá a criança criada sem família? Qual o futuro da Nação e o progresso do Estado com essa patologia enraizada?

São perguntas fáceis de serem respondidas, porém com consequências irreversíveis para o futuro da Nação. Não há projetos de lei e movimentos que busquem a solução para essa questão, que gera inconscientemente e de forma crescente problemas sociais – criminalidade, crueldade, violência, falta de amor e respeito ao próximo, de disciplina e motivação de melhorar; como síndrome advindas dos excessos e da falta de planejamento e programas públicos.

Não estamos falando da síndrome de Burnout – distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso, definido por Herbert J. Freudenberger como “(…) um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”. Mais que isso, a dedicação exagerada à atividade profissional é uma característica marcante de Burnout, como também desse milênio, o qual o trabalhador é estimulado a comprar e consumir cada vez mais e, consecutivamente trabalhar mais para obter recursos. A imposição da carga horária no regime CLT não é culpada pela síndrome ou pelo consumismo, porém favorece e legaliza a patologia.

O regime trabalhista adotado, ainda neste século, é semelhante ao de escravidão, pois um colaborador permanece a disposição da empresa por tempo maior que para sua própria vida, com pouco mais seria literalmente escravo. O tempo que sobra é para alimentar-se e dormir, exemplo: o trabalhador sai de casa às 5h, para chegar às 7h30min na empresa; permanece até às 17h30min e chega em casa às 20h. Se ele for dormir às 22h, terá apenas 7h de sono, 1h para se alimentar e tomar banho e 1h para ficar com a família. Ou seja, resta para o cidadão 2h/dia para si e sua família. Resta o final de semana para cuidar da casa e demais tarefas pessoais, descansar e dividir com a família; tempo insuficiente para fortificar o laço familiar, educar e preparar o ser humano para o futuro.

O dia-a-dia dos brasileiros é assim. Esse cenário é tão comum que ninguém pensa em mudar ou tentar adequar estratégias de gestão pública para a melhoria continuada da vida do cidadão e para o futuro da Nação. A classe exploradora de capitalistas pensa nos seus lucros, e em usar o máximo de tempo do trabalhador; não preocupados com o bem-estar social, acabam perdendo seus colaboradores ou prejudicando suas vidas. Já os trabalhadores não enxergam alternativa diferente de submeter-se a carga horária exigida pelo mercado, para sustentar financeiramente suas famílias. A mudança desse cenário é bastante complexa, porém coerente e viável.

A última redução do período semanal de trabalho ocorrida no país foi na Constituição Federal de 1988 – artigo 7º, incisos XIII e XVI, o qual prevê que a duração da jornada diária de trabalho não pode ser superior a 8 horas diárias ou 44 semanais –, quando a jornada foi reduzida de 48 para 44 horas. Agora, ou melhor, desde 1995 tramita no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição 231/95 que reduz a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem o ajuste correspondente no salário; o objetivo principal é gerar mais empregos.

Os parlamentares, mesmo buscando soluções, com essa visão limitada e inconsistente no âmbito global, não conseguem envolver todos os pormenores do contexto e cenário. No entanto, com essa pequena redução da carga horária laboral não se consegue gerar mais emprego e resolver problema social algum; na verdade é tudo ou nada – reduzir minutos diários não dará possibilidade de uma empresa contratar dois funcionários para ocupar o mesmo espaço/dia, comprometendo com isso o negócio. A solução é uma medida social abrangente em todo o cenário – trabalhador, capitalista, qualidade de vida, bem-estar social, pai e mãe, filhos, casal, família, educação, preparação, futuro das crianças, desenvolvimento do país e da Nação.

Se o trabalhador servisse ao capitalista com a carga horária, equivalente ao meio expediente da CLT, e continua-se ganhando o mesmo valor de sua remuneração mensal, certamente não geraria prejuízo para o negócio e para sua vida. É questão de adequação e consciência: submeter uma produtividade menor ao trabalhador e exigir mais qualidade e resultados; repassar ao consumidor os custos, nos produtos e serviços que exigirem maior volume de mão de obra; utilizar toda verba pública de comunicação para campanhas educativas e de conscientização para a educação e o preparo dos filhos etc. Com isso, o Brasil investiria no futuro e teria resultados garantidos e a Nação livre e capaz de crescer e vencer.

Karl Marx, o economista mais influente da história, com seu grito marxista estridente e direto de revolução, já falava: “Uni-vos, trabalhadores do mundo. Não tendes nada a perder, a não ser vossas correntes”. Segundo Marx o trabalho é a única fonte de valor, mas os trabalhadores recebem apenas parte dos frutos do esforço; em seu ponto de vista, a maior parcela não merecida é obtida pela classe exploradora de capitalistas. Esse posicionamento aconteceu há mais de 120 anos.

Abraham Lincoln, em seu mandato, lutou veemente pela abolição da escravatura, através da chamada Emancipation Proclamation, promulgada em 1° de janeiro de 1863. Cem anos após, a luta nos Estados Unidos continuava – “Não haverá tranquilidade nem sossego na América enquanto o negro não tiver garantidos os seus direitos de cidadão… Enquanto não chegar o radiante dia da justiça… A luta dos negros por liberdade e igualdade de direitos ainda está longe do fim”, declarou Martin Luther King na lendária marcha pelos direitos civis rumo a Washington em 1963. Hoje, a necessidade de liberdade continua, a luta é a mesma não só pelos negros, mas em defesa da exploração da mão de obra e das famílias dos trabalhadores.

Até hoje a característica da relação trabalhista é a mesma – de exploração do trabalhador –, melhorou pouco, mas continua o conceito das empresas públicas e privadas que não medem esforços para exigir o máximo do trabalhador, principalmente no cumprimento da carga horária; como se isso fosse a estratégia para enriquecer seu negócio. Na verdade o que proporciona a lucratividade duradoura é a retenção dos clientes e, com isso, a repetição dos negócios entre o mesmo cliente e a empresa; sendo o maior responsável por esse resultado o próprio empregado/colaborador. Esgotar um colaborador é perder seu potencial produtivo e, com isso, diminuir os resultados da empresa.

Na maioria dos casos, o ponto de equilíbrio na curva de demanda e oferta independerá do sacrifício do colaborador, quando for ponderado o percentual produtivo do mesmo. Como exemplo: por um lado, se o capitalista exigir a carga horária normal de 8h e remunerar o colaborador com 10 salários, poderá ganhar 100 salários sobre o mesmo, com pouca qualidade. Por outro lado, 2 colaboradores ganhando 20 salários poderão produzir de 200 a 300 salários, com qualidade. As empresas também podem funcionar em horários diferentes, sem preocupação com a concorrência, pois se o segmento é específico e a clientela também, o horário laboral assim será.

Com visão estratégica e tática as empresas, principalmente de vendas e atendimento, se beneficiariam amplamente dessa carga horária, pois um colaborador/vendedor atinge seu pico produtivo depois da primeira hora trabalhada e começa a perder na quarta hora; momento em que perderá também oportunidades de negócio para empresa e o potencial de reter os clientes. Se o colaborador for substituído no momento exato não haverá perda, mas sim 100% de aproveitamento da capacidade intelectual, emocional, física e, com isso, o aumento da lucratividade da empresa, qualidade de vida do trabalhador e da sociedade como um todo.

É importante enxergar esse contexto amplamente e buscar todas as raízes que sustentam este cenário de exploração inconsciente do trabalhador. Essa história se repete, permanece e agrava em todas as classes sociais do Brasil. São crianças crescendo sem os pais e casais distantes do conceito familiar. A importância de educar que, ainda é a principal tarefa da família, não pode ser cumprida com os pais trabalhando 8h por dia. Os casais não conseguem manter uma relação saudável em família trabalhando 8h/dia. Essa patologia é o fator comprometedor do futuro, e já compromete o país.

Muito embora as crianças permaneçam também a maior parte do tempo na escola, consequência dos pais trabalhando e ausentes do lar, a rotina de cuidar com limites, são as regras indispensáveis que vão dar forma, ordem e organização, tanto na vida cotidiana, quanto na psique da criança; para ela crescer com maior segurança e estrutura emocional para lidar com as questões afetivas, com os relacionamentos sociais e familiares, e com o mundo externo também. Sem essa base, o resultado é a sociedade de profissionais intelectuais que não conseguem relacionar-se com os demais, cidadãos revoltados e amargurados ou até mesmo desequilibrados e inconstantes com baixo poder efetivo de produção.

Com o excesso de trabalho, os filhos sentem trocados e traídos pelos pais/trabalhadores, é como se não fossem importantes. Sinais como tiques nervosos, tristeza e apatia ou agressividade são bastante comuns quando o motivo da ausência é esse, e que os pais devem prestar atenção no comportamento dos filhos para não achar que esses sintomas são frescura ou decorrentes de outros motivos. A rotina diária ou a forma como a estrutura familiar está organizada exige que os pais encarem como desafio o que deveria ser uma obrigação: tornar-se presente na vida dos filhos. A ausência se transforma em culpa, para os pais que não conseguem dar atenção à prole, e em traumas para os filhos, que se sentem sozinhos e até rejeitados pelos pais.

A psicóloga Patrícia Spada, explica que a ausência dos pais pode interferir de maneira diferente no desenvolvimento da criança e do adolescente. Para ela, a ausência traz danos em quaisquer circunstâncias, mas a idade e o motivo da ausência são elementos chave nesta questão, “Criança ou adulto, filhos precisam das referências dos pais, sem elas tendem a enxergar os relacionamentos humanos com certo despreparo e como algo negativo”, explica ela.

A formação da personalidade da criança acontece de 0 a 3 anos de idade, nessa fase a referência dos pais é fundamental. “Se os pais faltam, a criança se sente desprotegida e não tem parâmetros para diferenciar o que é certo do que é errado. Doenças cognitivas – obesidade, desnutrição e problemas afetivos são alguns dos traumas carregados pela ausência dos pais”, conta Patrícia. “Os traumas sofridos nessa fase se estendem pela vida adulta e vão desde dificuldades de aprendizagem até a falta de apetite ou a comilança excessiva”.

Na adolescência os efeitos são mais de ordem comportamental e podem refletir tanto na vida amorosa e familiar como no convívio em sociedade. “O adolescente tende a buscar referências fora de casa, quando não as encontra nos pais. Portanto, a chance de manifestar um comportamento agressivo e buscar as referências ausentes em estranhos são grandes”, explica Patrícia.

O futuro do país são estas crianças, que permanecem afastados da família para os pais trabalharem. São alunos que “estudam mais”, ou melhor, permanecem mais tempo nas escolas. Com isso, a relação familiar fica em segundo plano e a base emocional comprometida; é como se fosse cada um defendendo seu futuro, com pouca ou quase zero unidade afetiva. Socialmente é o caos, pois o hábito adquirido é isolado, individual e carregado de traumas; esse comportamento nas empresas é totalmente pernicioso, comprometendo o trabalho em equipe, a produtividade, lucratividade, a qualidade do clima organizacional e a permanência da empresa no mercado por longo tempo.

Os conceitos precisam ser revistos, pois mesmo com visão capitalista e foco na lucratividade, há meios de proporcionar melhores resultados sustentáveis a longo prazo e atender toda a camada social, beneficiando o Estado a e sociedade como um todo. Negócio bom é quando favorece todas as partes. A ganância capitalista que exige resultados a curto prazo e foca seus objetivos no quantitativo é que favorece a sustentação deste regime de escravidão – carga horária de 40h/semanais. O cidadão, com o mesmo salário e trabalhando 4h/dia corridas pode produzir mais para uma empresa que outro com salário igual e trabalhando 8h/dia. O futuro do país depende das famílias unidas, sem traumas, problemas emocionais e com muita motivação para crescer, aprender e produzir.

Por Paulo Eduardo Dubiel – Executivo em Gestão de Marketing e Negócios, Esp.

Paulo Eduardo Dubiel
Paulo Eduardo Dubiel
Paulo Eduardo Dubiel é publicitário, jornalista e gestor de negócios e marketing profissional; graduado em Gestão de Marketing, MBA Executivo em Gestão de Negócios, pós-graduado em Gestão da Inteligência Emocional, com extensão em Gestão Pública de ODM – Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, Gestão de Resíduos, Gestão Ambiental e Administração do Tempo e demais cursos. Consultor Master com 25 anos de experiência profissional nas áreas estratégicas, táticas e operacionais.

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