Turismo de Madrugada no Rio de Janeiro
Turismo de madrugada? No Rio, visitantes lotam cartões postais para clicar o nascer do sol
Mirante Dona Marta, no Cosme Velho; mar do Posto 6, de Copacabana; e Morro Dois Irmãos, no Vidigal, são alguns dos atrativos com boom de visitantes
Antes de o sol nascer, um engarrafamento entre o Posto 5 e o 6, em Copacabana, chama a atenção de domingo a domingo. Não são carros que se enfileiram no asfalto: o congestionamento é no mar, formado por mais de cem pranchas de stand up paddle — em dias mais movimentados, elas chegam a 300 — remadas por turistas ou cariocas em busca do melhor ângulo do alvorecer.
Eles começam a se preparar para a experiência com o céu ainda escuro. Às 5h da manhã, enquanto boa parte da cidade ainda dorme e outra quantidade de moradores desperta, cariocas e turistas madrugadores já estão para lá e para cá no calçadão. Influenciada pelo boom de registros multicores do point de Copacabana no Instagram e no Tik Tok, a multidão quer flagrar o degradê alaranjado com vista para o Pão de Açúcar e contemplar a paisagem sobre o balançar das ondas.
‘Queríamos viver isso’
Na última quarta-feira de outono, nas costas da estátua de Carlos Drummond de Andrade, a Praia de Copacabana já provava que, agora, não é só o sol de meio-dia que atrai visitantes. A madrugada na água tem seus encantos e contagia até quem já vive perto da praia. É o caso de Ysabela Rios, de 20 anos, moradora do Vidigal que chegou ao calçadão tomando um energético.
— É para espantar o sono. De tanta empolgação para vir, eu nem dormi — explicou a vendedora.
Turismo de madrugada? Visitantes lotam cartões postais da cidade para ver o nascer do sol
— Foto: Custodio Coimbra / Agência O Globo
— Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
— É a primeira vez que fazemos turismo nesse horário. Somos loucos, não é? Estou com frio, mas queríamos muito viver isso — brinca a advogada estrangeira Amália Corillo.
Vitor de Pieri, professor do Departamento de Turismo da Uerj, explica que o fenômeno da alta procura da atividade é efeito da explosão de posts na internet:
— É bem plausível associarmos tanto o turismo na madrugada, em busca do nascer do sol, como a prática de esportes, a exemplo do stand up paddle, com a divulgação nas redes sociais. A turistificação de espaços e as tendências da sociedade se dão cada vez mais pelo que chamamos de instagramização, criando, assim, novos comportamentos sociais e atrativos turísticos.
Embora o stand up paddle turístico do amanhecer possa ser feito em pontos como a Praia do Flamengo e a Lagoa de Marapendi, na Barra, o fervo no Posto 6 tem explicação: a consonância entre paisagem (o sol nasce como uma bola de fogo por trás do mar de Copacabana e de diferentes morros), oferta de serviços (cerca de sete tendas de instrutores de stand up dividem espaço na areia) e mar de fácil acessibilidade, já que as ondas são fraquinhas por conta do Forte de Copacabana.
De olho na nova clientela, barraqueiros da Princesinha do Mar já planejam abrir mais cedo. É o caso de Evanildo Paranhos, de 54 anos, que trabalha no Posto 6 há mais de 30:
— Eu costumo chegar 6h40, mas vou me antecipar. O que estou vendo aqui nunca tinha visto antes nesse horário. Quero chegar cedo para oferecer água de coco, bebida com whey protein… — diz ele, antenado ao que a nova geração saúde anda consumindo.
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Por ali, além do público do stand up, estão os nadadores do mar, os praticantes de canoa havaiana, triatletas e ciclistas. Todos acompanham o dia clarear. A Subprefeitura da Zona Sul informa que mais de 400 alvarás para barracas com instrutores de atividades físicas foram concedidos recentemente.
— A grande verdade é que o Rio não depende só de sol e de verão para ser turístico. Depois da pandemia, a população acabou se reinventando e a gente vê que vários esportes são praticados de madrugada, fora dos horários comuns — diz o subprefeito Bernardo Rubião.
Disputa logo cedo
Em outro destino turístico que atrai visitantes na aurora, a disputa por um lugar ao sol é mais acirrada. Enquanto os primeiros raios ainda nem surgiram, o Mirante Dona Marta já tem uma multidão de gente à procura do melhor clique das luzes da cidade. Do topo de seus 360 metros de altitude, no Cosme Velho, é possível ver o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, o Maracanã, a Baía de Guanabara e a Lagoa Rodrigo de Freitas. E, enquanto o leitor ainda nem acordou, turistas fazem rodízio pelos melhores pontos para fotografar.
Na última sexta-feira, pouco depois das 6h da manhã, mais de 50 pessoas sapateavam pelo pátio do mirante com os celulares para cima. A maioria orientada por guias a esperar o sol no melhor ângulo. O aumento na procura ocorre também pela viralização nas redes sociais e por conta da proibição de alguns parques, como a Pedra da Gávea e a Pedra Bonita, de visitas antes das 8h.
— Hoje, a galera procura o Mirante Dona Marta por isso e por ser uma área acessível de carro. É diferente do Morro Dois Irmãos, que já exige caminhada e condicionamento para a trilha — explica Fernando Candeia, fundador da agência Rio Radical, uma das que oferecem o serviço.
No Morro Dois Irmãos, cuja subida fica dentro da Favela do Vidigal, para ver o sol nascer para todos, o turista terá que percorrer 1,5km de percurso em trechos íngremes. O guia Thales Wil, da Will Experience, já subiu e desceu mais de 500 vezes. Ele explica que, além desse point da Zona Sul, a Oeste também tem seus atrativos ao alvorecer:
— A Pedra do Telégrafo e a Pedra da Tartaruga, em Barra de Guaratiba, são bastante procuradas, tanto pelo turista brasileiro quanto pelo internacional. Em alguns desses lugares, também é possível a pessoa praticar esportes como o rapel.
O Corpo de Bombeiros alerta para a necessidade de priorizar a segurança e evitar locais perigosos sem guias ou profissionais especializados. Os guias, além de indicar os caminhos mais seguros, costumam sugerir vestimentas corretas e aparatos úteis para as trilhas ou esportes. No caso da caminhada na mata, por exemplo, roupas confortáveis, água e alimentos saudáveis são itens imprescindíveis. De resto, para encarar a madrugada, é uma câmera na mão e uma lanterna na cabeça.
Serviço: stand up paddle ao amanhecer em Copacabana
Garritano SUP: os passeios custam de R$ 100 de terça a quinta-feira. De sexta a segunda, o valor sobe R$ 20. Uma equipe de instrutores dá informações de segurança, disponibiliza guarda-volumes e acompanha os clientes no mar. Como cortesia, a empresa oferece fotos individuais ou em grupo e filmagem com drone. Instagram: @garritanosup02
SUP Copa Posto 6: os preços de dias úteis são de R$ 120 e, nos fins de semana, R$ 150. A empresa oferece filmagem de drone em 4k. Instagram: @supcopaposto6
Surf Rio: os valores vão de R$ 90 a R$ 110 porque há a opção de duas pessoas dividirem uma prancha grande. Instagram: @surfrio